Autismo e Medicação: Quando e Por que Considerar
Uma decisão delicada que deve ser feita com informação e acompanhamento profissional.
Autismo e Medicação: Quando e Por que Considerar
Quando uma criança é recebe o diagnóstico de autismo, muitas dúvidas surgem. Uma das mais comuns entre pais e cuidadores é: “Será que meu filho vai precisar tomar remédio?”
A verdade é que o autismo não se trata com medicação. Mas em alguns casos, ela pode ser uma aliada importante para lidar com sintomas que afetam o bem-estar da criança e de toda a família.
Neste artigo, vamos conversar sobre isso de forma clara, respeitosa e sem tabus.
⚠️ Antes de tudo: o autismo NÃO É UMA DOENÇA
É fundamental reforçar que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é uma doença. Portanto, não existe “cura”, e nenhum remédio trata o autismo em si.
O que existe são intervenções terapêuticas que ajudam a desenvolver habilidades sociais, sensoriais e de comunicação proporcionando autonomia e qualidade de vida para os autistas.
E em algumas situações, medicações podem ser indicadas para tratar sintomas associados, que dificultam a rotina, o aprendizado e a qualidade de vida da pessoa.
🤔 Mas então, quando a medicação é indicada?
A medicação pode ser uma alternativa quando a pessoa apresenta sintomas mais intensos, como por exemplo:
- Ansiedade severa ou crises frequentes;
- Comportamentos agressivos ou de autoagressão (como bater a cabeça, morder-se);
- Dificuldade significativa para dormir;
- Hiperatividade extrema, que atrapalha o foco e a participação nas terapias;
- Irritabilidade constante;
- Condições associadas, como TDAH, epilepsia, depressão, TOC, etc.
Nestes casos, os medicamentos ajudam a regular o cérebro, tornando a pessoa mais disponível para aprender, interagir e se comunicar.
📌 Importante: Existem diferentes classes de medicação que podem ser indicadas como ansiolíticos, estabilizadores de humor, medicamentos para TDAH, entre outros. Sempre de acordo com as necessidades de cada pessoa.
✍🏻 Quem pode prescrever medicamentos para pessoas autistas?
Somente um médico especializado pode avaliar se há ou não necessidade de introduzir uma medicação. O mais comum é essa prescrição ser feita por neurologista, neuropediatra, pediatra com experiência em TEA, psiquiatra e psiquiatra infantil.
Essa decisão precisa ser feita com muito cuidado e em diálogo com a família, sempre considerando:
- A idade da criança;
- A intensidade e o impacto dos sintomas;
- A resposta às terapias;
- Possíveis efeitos colaterais;
- Avaliação de outras alternativas.
💊 A medicação sozinha não basta
É importante entender que a medicação não ensina habilidades. Ela pode ajudar a reduzir barreiras como agressividade, irritabilidade, falta de concentração, entre outras, mas o desenvolvimento vem principalmente das intervenções terapêuticas e do apoio familiar.
Entre as principais terapias que devem caminhar junto com a medicação estão:
- Terapia Ocupacional
- Fonoaudiologia
- ABA (Análise do Comportamento Aplicada)
- Psicoterapia
- Acompanhamento psicopedagógico ou multidisciplinar
🤝🏻 A combinação entre terapias, escola, apoio familiar e, se necessário, o uso apropriado de medicamentos, é o que traz os melhores resultados e benefícios para a pessoa autista.
⚠️ Medicação e efeitos colaterais
Assim como qualquer medicamento, podem existir efeitos colaterais. Por isso deve ser uma decião consciente e em conjunto com um médico de sua confiança.
Veja abaixo os efeitos colaterais mais comuns:
- Sonolência;
- Alterações no apetite;
- Ganho de peso;
- Irritabilidade ou agitação;
- Dor de cabeça ou desconforto gastrointestinal.
Por isso, o acompanhamento médico é indispensável. Com ajustes na dose ou mudança de medicamento, muitos desses efeitos são controláveis e temporários.
✨ A nossa experiência com o Noah
Aqui em casa, vivemos na pele esse dilema.
Eu confesso que, no início, a ideia de medicar o Noah não me agradava. Sempre achei que ele era apenas uma criança com muita energia, barulhento, bagunceiro, e sendo bem sincera, eu sempre amei esse jeitinho dele.
Mas, logo depois de completar 6 anos, veio um momento difícil. Durante as férias de fim de ano, com toda a quebra de rotina, enfeites natalinos, luzes piscando e sem a escola, o Noah começou a ter crises intensas e longas, ficou muito agitado, agressivo e até se auto machucava. Ele não aceitava ouvir “não” e parecia estar constantemente desregulado.
Foi aí que, já sem saber o que fazer, buscamos um psiquiatra infantil. Com muita conversa e cuidado, iniciamos o uso de uma medicação e, para nossa surpresa, foi um divisor de águas.
O Noah continuou sendo ele mesmo: bagunceiro, alegre, cheio de vida. Mas agora, com muito mais regulação. As crises praticamente desapareceram e quando ocorrem, são menos intensas e duram menos tempo. Ele está mais concentrado, tranquilo, mais tolerante.
Aquilo que antes eu temia, hoje vejo como uma ferramenta de apoio, usada com responsabilidade e acompanhamento profissional.
❤️ Para finalizar
Medicar ou não medicar é uma decisão muito delicada. E não deve ser tomada com pressa, medo ou culpa.
Cada criança é única. E quando os sintomas estão prejudicando o bem-estar e o desenvolvimento, a medicação pode sim ser uma aliada valiosa, desde que usada com consciência e junto de outras formas de apoio.
O mais importante é entender que o objetivo nunca deve ser “normalizar” a criança, mas sim ajudá-la a viver com mais conforto, autonomia e qualidade de vida.
Se você está passando por esse momento, procure profissionais de confiança, tire todas as suas dúvidas e tome uma decisão consciente que faça sentido para a sua família.
Com carinho,
Michele Leite
Mãe do Noah e sua companheira de jornada 💙