Rigidez Cognitiva no Autismo: O que é, Exemplos e Estratégias para Apoiar

Quando falamos em autismo, um dos pontos que mais impactam a vida da criança (e consequentemente da família) é a chamada rigidez cognitiva, que é a dificuldade em lidar com mudanças, em flexibilizar pensamentos e em se adaptar a novas situações.

Se você é mãe, pai ou cuidador, provavelmente já viveu momentos em que a criança autista insistiu em seguir sempre o mesmo caminho, comer a mesma comida ou repetir a mesma rotina todos os dias. Isso não é “frescura” nem “teimosia”: é a rigidez cognitiva em ação.

🤔 O que é a rigidez cognitiva?

A rigidez cognitiva é uma característica muito comum no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela acontece quando o cérebro tem mais dificuldade de se adaptar a mudanças ou de aceitar diferentes formas de fazer a mesma coisa. A pessoa autista tem dificuldade com flexibilidade.

Auguns exemplos muito comuns de rigidez cognitiva em pessoas autistas:

  • Só querer usar a mesma roupa ou sapato;

  • Comer apenas alimentos específicos, da mesma marca e preparados sempre da mesma forma;

  • Seguir sempre o mesmo ritual para atividades do dia a dia, na mesma sequência;

  • Fazer birra ou entrar em crise quando a rotina muda (como por exemplo trocar o caminho para a escola);

  • Resistir a aprender novas regras de um jogo ou novas formas de brincar.

🧠 Por que pessoas no TEA tem rigidez cognitiva?

O cérebro da pessoa autista processa as informações de forma diferente. A previsibilidade traz segurança.

Quando algo foge do esperado, surge a ansiedade e a frustração, podendo resultar até mesmo  em crises, porque o mundo fica imprevisível demais e a pessoa não consegue lidar com isso.

Essa rigidez também está relacionada ao hiperfoco, à busca por padrões e à necessidade de controle, formas que a criança (ou adulto) encontra para diminuir a ansiedade e organizar e compreender a realidade.

👉 Como a rigidez cognitiva pode impactar o dia a dia?

  • Dificuldade em aceitar mudanças na rotina.

  • Problemas em ambientes escolares (quando há surpresas ou alterações de atividades).

  • Conflitos familiares por insistir em regras próprias.

  • Ansiedade e crises diante de imprevistos.

Mas também existe o lado positivo:

A rigidez pode favorecer persistência, atenção aos detalhes e foco em tarefas específicas. Ou seja, ela não é apenas um desafio, mas também uma característica que pode ser canalizada de forma construtiva.


🛠️ Estratégias para apoiar

Aqui estão algumas formas práticas de ajudar uma criança (ou adulto) autista a lidar melhor com a rigidez cognitiva:

  • Use rotinas visuais
    Quadros de rotina, figuras, imagens ajudam a dar previsibilidade e segurança.

  • Prepare para mudanças
    Avise com antecedência quando algo vai mudar: “Hoje vamos por outro caminho porque a rua está fechada por causa das obras”

  • Ofereça escolhas limitadas
    Ex: “Você prefere usar a camiseta branca ou amarela?”. Assim, a criança sente controle dentro de limites possíveis.

  • Valide os sentimentos
    Mostre que entende a dificuldade dela: “Eu sei que você queria ir pelo caminho de sempre. É difícil mudar, a gente se sente ansioso mas vai dar tudo certo, a mamãe está aqui junto com você”.

  • Treine a flexibilidade aos poucos
    Introduza pequenas mudanças gradualmente, sempre celebrando cada conquista.

  • Trabalhe em parceria com terapeutas
    Psicólogos, terapeutas ocupacionais e escolas podem ajudar a aumentar a flexibilidade cognitiva. Trabalhar em conjunto é fundamental, quando escola, terapia e família se unem num mesmo propósito os resultados são muito melhores e todos saem ganhando, principalmente a criança.

💙 A minha experiência com o Noah

Com o Noah, a rigidez cognitiva sempre esteve presente. Ele se apega a rotinas, objetos e lugares de um jeito intenso. No começo, eu achava que era “frescura” ou “teimosia”, até entender que era o jeito dele de se sentir seguro.

O que mudou nossa realidade foi aprender a acolher esses momentos, ao em vez de brigar ou forçar. Hoje, quando sei que haverá uma mudança, sempre converso com ele antes. Para a rotina do dia a dia eu sempre mostro fotos, ofereço alternativas e comemoro quando ele consegue lidar melhor, o Noah ama ser elogiado e aqui em casa isso funciona muito como uma estratégia de reforço positivo.

Não é sobre eliminar a rigidez, mas sim ajudá-lo a viver com mais conforto, previsibilidade e, pouco a pouco, ampliar a tolerância às mudanças. É um trabalho de formiguinha mas que com consistência vai trazendo resultados.

Cada pequeno avanço conta e, no fim, o que realmente importa é oferecer segurança, amor e compreensão.


Com carinho,
Michele Leite
Mãe do Noah e sua companheira de jornada 💙