Adaptações simples em casa que transformam a rotina da criança autista
Pequenas mudanças no ambiente podem trazer mais segurança, autonomia e bem-estar para crianças autistas e facilitar a vida de toda a família.
Publicado em 04/11/2025 por Michele Leite
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Muitas vezes, a maior ferramenta que nós, pais atípicos, temos não é um livro, nem uma terapia, é o nosso olhar.
Observar com atenção, paciência e curiosidade pode nos revelar muito sobre nossos filhos: seus interesses, suas dificuldades, seus medos e suas formas únicas de aprender.
É quase um trabalho de detetive: decifrar comportamentos, entender padrões e tentar transformar essas descobertas em oportunidade de aprendizado.
Cada criança autista tem o seu próprio ritmo, seus próprios interesses e sua maneira particular de interagir com o mundo.
Quando observamos de verdade, sem pressa e sem julgamentos, conseguimos identificar o que desperta curiosidade, o que causa desconforto e o que motiva.
A observação é o primeiro passo para compreender o “porquê” dos comportamentos, e não apenas o “o quê”. Se tem uma coisa que eu aprendi nessa jornada é que nunca é “do nada”, todo comportamento tem um motivo por trás dele.
Por exemplo: uma criança que organiza objetos pode estar demonstrando necessidade de previsibilidade, mas também pode estar expressando prazer em ver as coisas em ordem, ou até uma forma de processar o ambiente.
Tudo vai depender do contexto, e é o nosso olhar atento que ajuda a decifrar essas nuances.
O Noah sempre foi uma criança muito organizada, assim como eu e o meu marido. Eu nunca soube se isso é uma característica dele, uma herança nossa ou parte do funcionamento dele dentro do espectro.
Mas eu aprendi uma lição importante: o que para muitos parece “apenas uma característica”, pode ser uma chave para o aprendizado.
Por anos, tentei ensinar as cores ao Noah, mas ele nunca demonstrava interesse. Eu mostrava brinquedos coloridos, fazia jogos de pareamento, e nada funcionava.
Até que, um dia, tive uma ideia: usei a própria organização dele como ponto de partida.
Peguei quatro potinhos de sobremesa coloridos (azul, rosa, verde e amarelo) e várias bolinhas de pelúcia das mesmas cores dos potinhos. Deixei tudo espalhado sobre a mesa, sabendo que ele não iria resistir ao “caos”.
Como imaginei, assim que ele viu as bolinhas espalhadas na mesa ele começou a guardá-las nos potes, todas misturadas.
Então, com calma, mostrei como separar por cor. E, para a minha surpresa, ele observou e repetiu o que eu fiz.
Depois de anos de tentativas, finalmente o Noah fez o pareamento de cores, e eu só tive essa ideia porque eu observei o que o motivava, que neste caso, foi a organização.
Cada criança autista tem interesses diferentes. Algumas aprendem melhor com sons, outras com imagens, outras com movimentos, etc.
Quando a gente entende o que faz sentido para o nosso filho, fica mais fácil adaptar o aprendizado.
💡 Exemplos práticos:
Se a criança gosta de alinhar brinquedos, use isso por exemplo para trabalhar classificação e sequência.
Se ela ama música, use canções para ensinar novas palavras, partes do corpo, etc.
Se é muito visual, você pode explorar jogos de pareamento, quebra-cabeça, imagens para nomear, etc.
Se busca movimento, transforme as atividades em brincadeiras com o corpo, como por exemplo trabalhar equilíbrio, coordenação motora, etc.
A chave é simples, mas poderosa: em vez de tentar encaixar a criança no aprendizado, adapte o aprendizado ao jeito dela.
Observar não é só notar o que acontece, é tentar entender por que acontece. O que vem antes de um comportamento? O que o desencadeia? O que ajuda a acalmar?.
Essas pequenas percepções são o ponto de partida para grandes avanços. Quando olhamos com mais empatia e curiosidade, deixamos de ver “dificuldades” e começamos a ver caminhos.
Os profissionais são fundamentais, claro, mas o que os pais observam no dia a dia é insubstituível. Porque ninguém convive, sente e percebe o filho tanto quanto nós pais.
Observar é enxergar o que o seu filho tenta comunicar, mesmo sem palavras, é o primeiro passo para ajudá-lo a florescer do jeitinho dele.
Com carinho,
Michele Leite
Mãe do Noah e sua companheira de jornada 💙