Sistema sensorial e autismo: o que é, como funciona e como ajudar seu filho por meio da integração sensorial

O sistema sensorial é a base de como o nosso corpo percebe, interpreta e reage ao mundo.

É ele quem diz ao cérebro o que estamos sentindo, o som de uma voz, o toque de uma roupa, a textura de um alimento, a luz de um ambiente, etc.

No autismo, esse sistema pode funcionar de forma diferente, fazendo com que alguns estímulos sejam sentidos com intensidade maior (hipersensibilidade) ou com menor percepção (hipossensibilidade).

Compreender o sistema sensorial é essencial para entender o comportamento da criança autista e ajudá-la a se sentir segura, regulada e conectada.

💡 O que é o sistema sensorial?

O sistema sensorial é composto por oito sentidos, que trabalham juntos para construir a percepção do mundo.

Além dos cinco sentidos mais conhecidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), há três outros fundamentais para o desenvolvimento da criança:

  • Sistema vestibular: responsável pelo equilíbrio e movimento (saber se estamos em pé, deitados, girando, etc.).

  • Sistema proprioceptivo: nos ajuda a perceber onde estão as partes do nosso corpo, mesmo sem olhar.

  • Interocepção: é a percepção do que acontece dentro do corpo (fome, sede, vontade de ir ao banheiro, frio, calor, dor. etc.).

Esses sistemas trabalham o tempo todo, enviando informações ao cérebro para que ele decida como reagir.

🧩 O sistema sensorial no autismo

Pessoas autistas podem processar essas informações de forma diferente.

O cérebro pode amplificar alguns estímulos (hipersensibilidade) ou precisar de estímulos mais fortes para reagir (hipossensibilidade).

👉🏻 Exemplos de hipersensibilidade:

  • Incômodo com barulhos, tecidos, cheiros ou luzes fortes.

  • Desconforto com cortes de cabelo ou etiquetas na roupa.

  • Evitar certos alimentos devido à textura ou sabor.

👉🏻 Exemplos de hipossensibilidade:

  • Buscar movimentos intensos (pular, girar, balançar, etc.).

  • Gostar de se apertar em lugares pequenos ou pedir abraços firmes.

  • Necessidade de tocar e explorar tudo com as mãos.

Essas respostas não são “manias”, e sim reações do corpo tentando se autorregular diante de estímulos sensoriais que o cérebro processa de forma atípica.

🧠 O que é integração sensorial?

A integração sensorial é o processo pelo qual o cérebro organiza e dá sentido às informações que vêm dos sentidos.

É o que permite reagirmos de forma adequada como por exemplo, tirar a mão de algo quente, andar sem olhar para os pés, manter o equilíbrio ao subir uma escada, etc.

Em pessoas autistas, esse processo pode ser desafiador, e por isso é muito comum que apresentem comportamentos como:

  • Tapar os ouvidos;

  • Se balançar para se acalmar;

  • Buscar ou evitar toques e sons;

  • Ter dificuldade com roupas ou texturas.

A Terapia de Integração Sensorial é uma abordagem desenvolvida pela terapeuta ocupacional Jean Ayres, que trabalha justamente para ajudar o cérebro a processar esses estímulos de forma mais equilibrada, através de brincadeiras estruturadas e experiências sensoriais guiadas.

🧩 Como fazer integração sensorial em casa

Você não precisa de equipamentos caros, o mais importante é observar o que seu filho busca ou evita e oferecer atividades que o ajudem a se regular.

Veja algumas ideias simples:

🖐🏻 Estímulos táteis (tato)

  • Caixa sensorial com arroz, feijão, algodão, areia, bolinhas de gel, etc.

  • Brincar com espuma de barbear, massinha, farinha, slime, etc.

Esses tipos de atividades ajudam a melhorar a tolerância ao toque e à textura dos alimentos e roupas.

👂🏻 Estímulos auditivos (audição)

  • Brincadeiras com música, palmas, instrumentos simples (como tambores e chocalhos).

  • Permita que a criança use abafadores de ruídos quando precisar.

Favorece o ritmo, atenção e regulação emocional.

👁️ Estímulos visuais (visão)

  • Jogos de pareamento de cores e formas.

  • Garrafas sensoriais com glitter e água colorida.

Desenvolve foco, concentração e percepção visual.

🤸🏻 Estímulos vestibulares (equilíbrio e movimento)

  • Pular, balançar, rolar, girar, andar sobre almofadas, etc.

Regula o sistema nervoso e melhora a coordenação motora.

🫂 Estímulos proprioceptivos (consciência corporal)

  • Enrolar a criança em um cobertor (“burrito”), abraços firmes e brincadeiras de empurrar/puxar.

Traz sensação de segurança e organização corporal.

🛁 Estímulos com água

  • Banhos de bacia ou banheira, bolhas de sabão, lavar brinquedos com esponja.

Atividades com água naturalmente traz calma e relaxamento, são ótimas antes de dormir

💡 Dicas importantes para os pais


  • Observe quais estímulos a criança busca e quais ela evita.

  • Nunca force uma atividade, o objetivo é que seja prazerosa e não desconfortável.

  • Faça sempre com supervisão e respeitando o tempo da criança.

  • Converse com o terapeuta ocupacional, que pode adaptar as atividades para o perfil sensorial do seu filho.

A integração sensorial não é sobre “corrigir” comportamentos, e sim ajudar o corpo e o cérebro da criança a trabalharem em harmonia.

🌈 Por fim

Entender o sistema sensorial é como ganhar um mapa do funcionamento do seu filho. Cada movimento, cada reação, cada busca por estímulo é uma forma de comunicação, é o corpo dizendo o que precisa.

Ao oferecer experiências sensoriais positivas, você está ajudando no desenvolvimento do seu filho. Porque o brincar, quando feito com propósito e amor, é uma das formas mais poderosas de conexão e aprendizado.


Com carinho,
Michele Leite
Mãe do Noah e sua companheira de jornada 💙