Como Lidar com Crises Sensoriais em Crianças com Autismo
Estratégias práticas para prevenir e acalmar crises no dia a dia.
Como Lidar com Crises Sensoriais em Crianças com Autismo
As crises sensoriais são uma das experiências mais intensas e desafiadoras que muitas famílias vivem no dia a dia com uma criança autista. Quem já presenciou uma sabe: não é birra, não é “falta de educação”, é o corpo e o cérebro reagindo a estímulos que parecem insuportáveis naquele momento.
Se você é mãe, pai, cuidador ou convive com uma criança no espectro, este artigo é pra você. Vamos entender o que são essas crises, por que acontecem e como podemos lidar com elas com mais acolhimento, calma e empatia.
🤯 O que é uma crise sensorial?
Crianças autistas costumam ter o que chamamos de disfunção do processamento sensorial. Isso significa que os sentidos (audição, visão, tato, olfato, paladar e até equilíbrio) captam os estímulos do ambiente de forma diferente.
👉 Um barulho que passa despercebido pra você pode ser insuportável pra uma criança com hipersensibilidade auditiva.
👉 Uma etiqueta na roupa pode parecer uma lixa na pele.
👉 Uma luz forte pode causar dor de cabeça ou desorientação.
Quando esses estímulos se acumulam e a criança não consegue mais se autorregular, ela pode entrar em crise sensorial: choro, gritos, se jogar no chão, bater, correr sem rumo ou até se isolar, entre outros.
🎯 O que pode desencadear uma crise?
Cada criança é única, mas alguns gatilhos comuns são:
- Ambientes muito barulhentos (shoppings, festas, escolas);
- Luzes muito fortes ou piscantes;
- Toques inesperados ou roupas desconfortáveis;
- Cheiros ou sabores intensos;
- Mudanças na rotina;
- Cansaço ou excesso de estímulo acumulado.
🫶 O que fazer durante uma crise?
- Mantenha a calma
Se você ficar nervoso(a), a criança vai sentir, respire fundo e tente manter um semblante calmo(a), de quem está ali apenas para acolher. Lembre-se: ela não está fazendo isso por escolha ou de propósito. - Reduza estímulos
Se possível, leve a criança para um lugar mais calmo, com pouca luz e barulho. Se não puder sair do ambiente, tente abafar os sons ou tampar os ouvidos da criança com um abafador ou suas mãos, se ela permitir. - Evite falar demais
Durante a crise, o cérebro da criança está em sobrecarga. Fale pouco, com voz baixa e calma. Às vezes, apenas sua presença silenciosa já ajuda. - Ofereça contenção segura (se for necessário e aceito por ela)
Algumas crianças se acalmam com um abraço apertado ou sendo envolvidas com um cobertor (compressão profunda). Outras preferem ficar sozinhas. Observe e respeite o que funciona com seu filho(a) - Não tente dar broncas ou lição de moral
Frases como “você não pode fazer isso”, “pare de chorar” ou “todo mundo está olhando” só aumentam a frustração e pioram a situação. Lembre-se: crise não é comportamento proposital, é uma reação involuntária.
💡O que fazer depois da crise?
Depois que a criança estiver mais calma:
- Converse com carinho, se ela estiver receptiva
- Ofereça um copo de água ou um momento tranquilo de aconchego
- Reflita sobre o que pode ter causado a crise e pense em estratégias para evitá-la no futuro
📌Lembre-se que uma crise nunca acontece "do nada", tentar observar e entender os gatilhos que desencadearam essa crise, irá te ajudar a tentar evitá-las no futuro, oferecendo o suporte necessário para o seu filho(a).
🔑Como prevenir crises sensoriais?
👉🏻 Mantenha uma rotina previsível
👉🏻 Prepare a criança para mudanças (com histórias sociais, imagens, etc.)
👉🏻 Use recursos como abafadores de ruído, óculos escuros, roupas confortáveis, objeto de conforto
👉🏻 Observe os sinais de sobrecarga sensorial e intervenha antes da crise
👉🏻 Ofereça pausas sensoriais durante o dia: tempo em silêncio, brinquedos de textura, movimentos como balanço ou pula-pula, massagens, etc.
💬 A minha experiência com as crises do Noah
Com o meu filho Noah, aprendi que crises sensoriais não são “escândalo” ou birras, são pedidos de ajuda. No início, eu também me sentia perdida, sem saber o que fazer, era uma situação que parecia estar fora do meu controle e que me deixava assustada, preocupada, angustiada.
Mas com o tempo, com muita observação fui entendendo os sinais, os gatilhos e ajustando nossa rotina, nossos passeios e até mesmo a forma como eu falava com ele. Procurar aprender sobre crises, por que elas acontecem, como lidar, entre outras coisas, me ajudou a me preparar para oferecer o melhor suporte que eu posso oferecer para ele.
Hoje, sei que a melhor resposta para uma crise é o acolhimento. Nem sempre dá pra evitar, mas dá pra estar ao lado, ser apoio e segurança até que passe.
Cuidar de uma criança autista é também aprender uma nova forma de ver o mundo. E cada crise sensorial, por mais difícil que seja, pode se transformar em um momento de aprendizado.
Com carinho,
Michele Leite
Mãe do Noah e sua companheira de jornada 💙