Seletividade Alimentar no Autismo: Nossa Experiência e Estratégias com o Noah

Como lidamos com a seletividade alimentar no dia a dia, respeitando o tempo e as necessidades do Noah.

Seletividade Alimentar no Autismo: Nossa Experiência e Estratégias com o Noah


A alimentação é um dos grandes desafios para muitas famílias com crianças autistas. A seletividade alimentar pode gerar muita preocupação, culpa e frustração. Por aqui, essa também é a nossa realidade com o Noah e, aos poucos, estamos aprendendo a lidar com isso.


Os primeiros sinais de seletividade alimentar (que só entendemos depois)

Desde a introdução alimentar, o Noah já dava sinais de seletividade. Ele nunca foi aquele bebê que se lambuzava comendo com prazer como idealizamos e também nunca aceitou qualquer tipo de alimento. Durante a introdução alimentar, eu pesquisei bastante, preparei tudo natural, me empenhei e ofereci uma alimentação variada e equilibrada… mas mesmo assim, ele só aceitava com muita insistência e em poucas quantidades.


Hoje, entendendo mais sobre o autismo, vejo como aqueles comportamentos já eram sinais de que havia algo diferente com o meu filho e que ele precisava de outras abordagens, mas eu não entendia isso.


Os erros e acertos

Foi nesse contexto de dificuldade e preocupação com a saúde dele que começamos a usar telas para tentar distraí-lo durante as refeições. Algo que hoje sei que foi um erro, mas que na época parecia ser a solução perfeita, já que distraído era muito mais fácil fazer ele comer.


Esse com certeza é um dos meus maiores arrependimentos: ter exposto o Noah às telas desde seus 7 meses de idade. A princípio para “ajudar” com a alimentação, mas o uso de telas se tornou um hábito além desses momentos. Hoje entendo o quanto isso prejudicou o desenvolvimento do meu filho.


Com o tempo, percebi que criar uma relação com os alimentos faz parte do processo de evolução na seletividade alimentar: a criança precisa explorar o alimento, olhar, pegar com as mãos, brincar, amassar, cheirar, encostar nos lábios, encostar na língua e por último colocar na boca e comer. Distraído por uma tela, estávamos indo na contramão do que era preciso ser feito.


Com o passar do tempo, o Noah foi restringindo ainda mais a sua alimentação.
E, como muitos pais, cometemos mais erros no caminho:


- Forçamos ele a ficar mais tempo na cadeira de alimentação;
- Tentamos enganá-lo alternando colheradas com alimentos que ele gostava;
- Tentamos deixá-lo sentir fome, na esperança de que assim ele comeria.

Mas nada disso funcionou. Mesmo com fome, ele se recusava a comer comida. E tudo que restava era a culpa de ter deixá-lo sentir fome ao em vez de dar para ele o pão que ele estava pedindo.


A mudança veio quando começamos a estudar sobre seletividade alimentar e entendemos que não era frescura. Comer é a ponta de um iceberg. Antes disso, há uma jornada sensorial e cognitiva a ser respeitada. Passamos a observar melhor, respeitar seus limites e aceitar que o progresso viria com tempo e paciência.


Como é a alimentação do Noah?


O Noah sempre preferiu alimentos úmidos e pastosos: purê de batata, comida amassada, banana, iogurte, mingau. Com o tempo, começou a gostar de pães e alimentos crocantes como bolacha água e sal e batata frita.


Notamos que sua alimentação gira em torno de uma paleta de cor muito específica: tons claros, como bege e amarelo. E isso, somado à textura, mostra que suas preferências têm forte ligação sensorial e cognitiva.


Atualmente, seus alimentos mais aceitos são:

- Arroz com feijão (única refeição principal aceita)
- Macarrão fusilli com molho de tomate ao sugo
- Pães variados (forma, baguete, brioche)
- Batata frita com corte fino
- Bolacha água e sal (de uma marca específica)


Mesmo os alimentos aceitos têm muitas restrições como marcas, temperaturas, formatos, etc. Muitos alimentos que ele gostava, como iogurte, banana, carne, frango, peixe e outros, ele parou de aceitar. Hoje, a única coisa que ele bebe é água. Ele mamou no peito até os 5 anos e nunca aceitou leite de vaca, apesar das tentativas.


Sobre vitaminas e suplementação


Já testamos várias vitaminas, mas ele raramente aceita. Hoje usamos uma para bebês até 5 anos, que conseguimos misturar na água. Não é a ideal, mas é a que funciona. Mas continuo tentando, sempre compro outros tipos de vitaminas que acredito que talvez ele aceite, mas por enquanto, sem suceeso.


O que tem funcionado por aqui:



Ver ele tolerando o cheiro ou observando um alimento novo já é uma conquista. Cada avanço, por menor que pareça, é enorme para nós. De degrau em degrau vamos construindo uma relação saudável com o alimento, sem pressão, sem forçar, sem punir.


Considerações finais


A seletividade alimentar não é frescura, nem falta de limite. Ela está ligada a questões sensoriais e cognitivas profundas. E sim, ela gera insegurança, cansaço e preocupação. Mas cada pequena conquista vale a pena.


Apesar da alimentação do Noah estar longe da ideal, ele sempre esteve dentro do peso e da altura para a idade. Nunca teve anemia ou outras doenças relacionadas à nutrição. Isso nos dá segurança para seguir com calma.


O Noah ainda tem um longo caminho quando o assunto é alimentação, mas já evoluímos muito. E o mais importante: estamos aprendendo a respeitar seus limites sem deixar de oferecer o suporte necessário.


Se você também vive essa caminhada, saiba que não está sozinha. Com paciência, carinho e persistência, é possível melhorar a relação da criança com a comida, um passo de cada vez.


Se alimentar é mais do que nutrir o corpo é sobre segurança, sensações, confiança. E cada colher conquistada é, na verdade, uma grande vitória.


Com carinho,
Michele Leite
Mãe do Noah e sua companheira de jornada 💙

Você também pode gostar de ler

Como Adaptar a Rotina para Crianças Autistas

Em 09/08/2025 às 20h18 - Atualizado em 17/08/2025 às 06h55