Poda neuronal no autismo: entenda o que é, quando acontece e como afeta o desenvolvimento
Saiba como o cérebro autista passa por um processo diferente de organização das conexões neurais e por que isso pode causar regressões
🧠 Poda neuronal no autismo: entenda o que é, quando acontece e como afeta o desenvolvimento
O cérebro humano é uma estrutura fascinante e em constante transformação.
Desde o nascimento, ele cria bilhões de conexões entre os neurônios, essas conexões são chamadas de sinapses, que são como fios de comunicação responsáveis por tudo o que aprendemos e sentimos: desde engatinhar até interpretar emoções.
Mas, para funcionar de forma eficiente, o cérebro precisa “organizar essa bagunça” de conexões. É aí que entra a poda neuronal, um processo natural que ajuda a moldar o cérebro durante o desenvolvimento.
✂️ O que é a poda neuronal?
A poda neuronal é o processo pelo qual o cérebro elimina conexões sinápticas que são pouco utilizadas e fortalece as que são mais importantes e ativas.
Esse mecanismo é essencial para o aprendizado, o comportamento e o amadurecimento cognitivo e emocional.
Pense no cérebro como se fosse um jardim:
Durante os primeiros anos de vida, crescem muitos galhos e folhas (as conexões).
Depois, o cérebro faz uma poda cuidadosa, cortando os ramos que não estão sendo usados para que os outros cresçam com mais força.
⏳ Quando a poda neuronal acontece?
A poda neuronal não acontece de uma vez só, ela tem duas fases principais de grande intensidade, chamadas de “picos de poda”:
1º pico: entre 1,5 e 3 anos de idade
É uma fase de aprendizado acelerado, quando a criança está começando a falar, andar, interagir e reconhecer o mundo.
Nesse período, o cérebro “testa” muitas conexões e depois elimina as que não são usadas com frequência.
É justamente por isso que muitos sinais do autismo se tornam mais perceptíveis por volta dos 2 anos, quando a poda começa a acontecer de forma mais intensa.
2º pico: entre 11 e 15 anos (início da adolescência)
Esse é um momento de reorganização profunda do cérebro.
A poda se concentra principalmente no córtex pré-frontal, região responsável por funções como planejamento, controle de impulsos, empatia, tomada de decisões e comportamento social.
É nessa fase que o adolescente começa a:
- Perder o interesse por brinquedos e brincadeiras da infância;
- Buscar mais independência;
- Se interessar por amizades, grupos sociais e até namoros;
- Questionar regras e experimentar novas formas de se expressar.
Essas mudanças não são apenas emocionais, são reflexos diretos da reestruturação cerebral causada pela poda neuronal.
🧩 Como é a poda neuronal no cérebro autista?
Pesquisas mostram que, em muitas pessoas autistas, a poda neuronal pode acontecer de forma diferente.
Em alguns casos, o cérebro mantém conexões em excesso, o que pode gerar sobrecarga sensorial e dificuldade para filtrar estímulos.
Em outros, ocorrem falhas que “podam” conexões importantes, e isso pode causar regressões, quando a criança perde habilidades que já havia adquirido, como falar, brincar de determinada forma ou responder ao próprio nome, etc.
Essa diferença na poda neuronal não é um erro, mas sim uma forma diferente de desenvolvimento e organização cerebral.
👀 Como os pais podem perceber os sinais da poda neuronal?
Embora a poda não seja algo visível, ela se manifesta por meio de mudanças comportamentais e emocionais, tanto na infância quanto na adolescência.
Durante a infância:
- Regressão em habilidades (por exemplo, parar de falar ou interagir);
- Mudança nos padrões de sono;
- Maior sensibilidade a sons, luzes ou texturas;
- Necessidade de previsibilidade e rotina.
Durante a adolescência:
- Mudanças bruscas de humor e interesse;
- Diminuição do interesse por brinquedos ou atividades “infantis”;
- Maior busca por independência ou privacidade;
- Curiosidade por temas mais maduros (amizades, relacionamentos, identidade, futuro);
- Dificuldade momentânea em lidar com regras ou limites.
Essas mudanças fazem parte de um processo natural de reorganização cerebral, que tende a se estabilizar ao longo da adolescência.
🫶🏻 Como os pais podem apoiar essa fase?
A poda neuronal é um processo biológico e inevitável, mas o ambiente tem um papel importante para ajudar o cérebro a se organizar de forma mais saudável e equilibrada.
Algumas formas de como os pais podem apoiar os seus filhos:
- Ofereça estabilidade emocional e rotina previsível.
O cérebro autista precisa de segurança para processar as mudanças internas e externas, e a previsibilidade na rotina exerce um papal fundamental para que eles se sintam seguros. - Dê espaço, mas mantenha o vínculo.
Na adolescência, o jovem começa a buscar mais autonomia, o que é totalmente normal, mas ainda precisa de acolhimento e escuta. Manter uma relação saudável com os nossos filhos é essencial para que eles se sintam acolhidos e nos enxerguem como suporte. - Converse sobre emoções e mudanças.
Muitos adolescentes autistas não conseguem nomear o que sentem, o diálogo ajuda a organizar o pensamento. É muito importante validar os seus sentimentos. - Inclua atividades que estimulem a autorregulação, como esportes, arte, terapias sensoriais, etc.
- Procure acompanhamento profissional quando necessário, principalmente se houver regressões marcantes, mudanças abruptas de comportamento ou sofrimento emocional.
Cada fase da vida traz novos desafios e novas formas de apoiar nossos filhos.
Compreender o funcionamento do cérebro autista é um ato de amor, quanto mais aprendemos, mais empáticos nos tornamos e sobra menos espaço para o julgamento.
Conhecimento é acolhimento.
Com carinho,
Michele Leite
Mãe do Noah e sua companheira de jornada 💙